Desoneração do setor de bebidas beneficia produção de guaraná no Amazonas

Governo federal reduz pela metade a alíquota do IPI.


Medida beneficiará 2 mil produtores do Estado, a maioria nos municípios de Maués e Presidente Figueiredo.
Foto: Fernando Cavalcante/Ambev/AE
Manaus - Maior exportadora do Amazonas, a indústria de concentrados de bebidas e de refrigerantes recuperou um benefício que deve resultar em aumento de produção e empregos na cadeia produtiva. A redução em 50% da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a fabricação de extratos e refrigerantes à base de guaraná está valendo há menos de dez dias, mas já trouxe boas perspectivas para os setores industrial e agrícola.
O Amazonas será um dos principais beneficiados com a redução do IPI, na opinião do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB). “Quando cheguei ao governo, a indústria pagava R$ 2 pelo quilo de guaraná. Com os fomentos concedidos através dos programas de sustentabilidade, saímos desse valor baixíssimo para um preço mínimo de R$ 8 o quilo, em menos de seis anos”, disse, informando que os incentivos beneficiaram mais de 2 mil famílias.
Cerca de 20% dos refrigerantes produzidos no Brasil são à base de guaraná, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir).
“Isso é uma cadeia. Tem que ter uma fonte produtora e uma de desenvolvimento. Vai gerar emprego no campo, na indústria, desenvolver a fábrica de concentrados e refrigerantes”, avalia o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Bebidas de Manaus, Aristarco Neto.
O representante da indústria prefere não falar em ‘boom’, mas em ‘oportunidade’ para o setor avançar um pouco mais. Somente nos quatro primeiros meses de 2013, o Amazonas exportou US$ 91 milhões com os concentrados, 86% acima do mesmo período de 2012. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
A maior disponibilidade de frutas influenciará a capacidade produtiva e o preço final, avalia o diretor de operações da Recofarma, Jório Veiga. “Além de ter mais capacidade, quem sabe o preço pode melhorar”, disse. O ‘desconto’ vai ocorrer na hora de vender o produto final.
Além da redução da alíquota do IPI para a bebida de guaraná, o Decreto 8.107 também vale para as bebidas de açaí e refrigerantes que contenham suco de frutas. A redução de IPI para as duas categorias foi suspensa em setembro de 2012.
A Abir projeta um crescimento de até 3% neste ano para todo o País, com o decreto. Em2012, aprodução nacional foi de R$ 16,1 bilhões de litros.
Mercado
Com capacidade produtiva de 280 mil litros por ano de extrato de guaraná, a Ambev mantém a filial Arosuco, responsável pela fabricação do extrato. O insumo é usado na produção dos refrigerantes Guaraná Antarctica e Baré, distribuídos para o Brasil, Japão e Portugal.
“Todas as nossas aquisições são realizadas dentro da Região Amazônica. O Amazonas responde por metade do volume nacional de sementes de guaraná e por sua vez, a Ambev compra 80% da produção”, disse a companhiaem nota. Acompra de guaraná injeta mais de R$ 21 milhões na economia do Estado por ano, informou.
A Ambev mantém ainda a Fazenda Santa Helena, projeto que buscou técnicas de manejo para obter melhor produtividade, teor de cafeína e resistência a pragas. Os primeiros plantios de guaranazeiros foram realizados em 1972.
No Amazonas, a Ambev gera 1,1 mil empregos diretos e 4 mil indiretos.
O Grupo Simões, que faz parte do sistema Coca-Cola Brasil, e a Recofarma produzem o Tuchaua Tradicional e Champanhe e Kuat, em escala de 12,5 milhões de litros por ano. O guaraná utilizado nos refrigerantes tem origem nos municípios de Maués e Presidente Figueiredo.
O Grupo tem parceria com a empresa Jayoro,em Presidente Figueiredoe é responsável pela produção de parte do guaraná e por processar a semente para produzir o extrato na versão líquida eem pó. O GrupoSimões e Recofarma empregam 2 mil pessoas.
Indústria e pequeno produtor serão beneficiados no Estado
O Amazonas será um dos principais beneficiados com a redução do IPI, na opinião do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB). “É um recurso que os produtores deixarão de transferir ao governo e que poderá ser utilizado no estímulo à produção e em investimentos para melhoria da produtividade”, disse. Para o senador, a medida vai os produtores amazonenses que atuam na produção de guaraná e açaí, além da indústria de bebidas.
O valor de mercado desse produto teve alta de 450% na região de Maués, entre 2003 e 2009, ressalta Braga. Nos anos em que ele esteve no governo do Estado, implantou programas de sustentabilidade que resultaram na valorização do fruto.
“Tanto em relação ao guaraná, como ao açaí, promovemos o desenvolvimento econômico floresta adentro com o conceito de Zona Franca Verde, que, na prática, significa levar tecnologia para desenvolver sem desmatar”, disse.
Braga ressaltou que em sua gestão à frente do governo foi contratada uma empresa para melhorar as mudas de açaí, o que gerou aumento na produção do médio Solimões, na região do município de Codajás, um dos principais produtores.
Melhoramento genético da Embrapa amplia cultivo
A evolução do faturamento no setor de bebidas vem alinhada ao melhoramento genético das mudas de guaraná nos últimos 30 anos, aumentando a produtividade em até seis vezes. O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, André Atroch, salienta que as cultivares têm resistência genética à antracnose, principal doença que ataca o guaranazeiro.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou as primeiras cultivares em1999. ABRS Maués e a BRS Amazonas são as mais difundidas nas áreas produtoras de guaraná. Ao todo, a Embrapa lançou 16 cultivares e prepara mais duas para este ano, a BRS Saterê e BRS Marabitana.
A comercialização da semente de movimenta o equivalente a R$ 15 milhões. “Se essas cultivares fossem plantadas em 100% da área, aumentaria essa produção em pelo menos 200%, ou seja, chegaríamos a 2,4 mil toneladas”, explica. A receita aumentaria para R$ 50 milhões.
A Embrapa tem parcerias com as fabricantes de concentrados, como a Ambev e Recofarma, além de atingir 40% dos pequenos produtores.
A tendência é voltar a ocupar a posição de maior produtor de semente de guaraná, hoje ocupado pela Bahia. O Estado nordestino tem maior produtividade mesmo sem técnicas de melhoramento genético. “Lá não tem pragas de doenças que tem aqui. Como a origem do guaraná é aqui em Maués, as pragas evoluíram com ele”, explica Atroch. As condições climáticas na Bahia também são mais favoráveis e os solos mais férteis que os do Amazonas.
Fonte: D24am