"Setor primário vive seu melhor momento" afirma Eron Bezerra

À frente da Secretaria de Produção Rural, o secretário Eron Bezerra coordena um arrojado projeto de fortalecimento da cadeia produtiva do Estado.

Elevar o padrão de renda dos homens e mulheres que vivem no campo. Esse é o objetivo da atual política de trabalho da Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror), segundo o titular da pasta, Eron Bezerra.

 Baseada em cinco fundamentos - policultivo, sustentabilidade ambiental, contemporaneidade científica-tecnológica, eficiência econômica e justiça social - a Sepror busca incrementar a economia, também, no interior do Estado, inovando com a implantação de agroindústrias, avanços no melhoramento genético e investimentos em infraestrutura, aliando sustentabilidade à modernização da produção rural do Amazonas.

Em entrevista concedida ao A CRÍTICA, o secretário Eron Bezerra destaca as conquistas de sua gestão e apresenta as metas do Governo do Estado para o setor primário

Como foi a implantação das indústrias de bacalhau da Amazônia?
 Bacalhau não é um peixe, é um processo industrial. Temos indústrias de bacalhau em Maraã e em Fonte Boa. Lançamos o projeto em 2009 e levamos dois anos para implantar em Maraã. O de Fonte Boa começou um pouco depois, mas deve levar o mesmo tempo. A fábrica de Maraã está pronta desde junho, mas deixamos para inaugurar em agosto por falta de despesca.

Por que essas indústrias foram para Maraã e Fonte Boa?
Pela sustentabilidade e justiça social. Onde temos pirarucu manejado e reserva sustentável no Amazonas? Em Mamirauá, Anamã, na região de Fonte Boa e Maraã. Poderiamos ter montado em Manaus, mas queremos agregar valor e verticalizar a economia no interior do Estado. E não teria sentido montar em outro município onde teríamos que levar a matéria-prima desses dois municípios.

Há possibilidade de expandir a produção?
Temos capacidade de processar até 100 mil pirarucus nas duas plantas, com 30 a 40 mil pirarucus manejados, não só em Mamirauá, mas em Tonantins, Jutaí e toda a região. Em Santo Antônio do Içá temos 150 lagos manejados. Na região de Mamirauá, mais 160 lagos. E ainda temos outros em Jutaí, Tonantins, Amaturá, São Paulo de Olivença. Levantamento do Ministério da Pesca e Aqüicultura aponta que o Brasil importa, em média, 38 mil toneladas de bacalhau por ano. Só em Maraã, a indústria tem capacidade para produzir 1,5 mil toneladas nesse período. A fábrica que está sendo construída em Fonte Boa tem o dobro da capacidade de produção de Maraã.

A Sepror promove a formação em assistência técnica em escala industrial nessas comunidades, para atingir a segurança sanitária exigida pelos mercados nacional e internacional?
 Sim. Nossos parceiros promovem. O peixe capturado nesses lagos é pescado com um arpão de aço inoxidável. As plantas de Maraã e Fonte Boa, obrigatoriamente, passarão pelos serviços de inspeção estadual e federal, o que dá a elas a garantia sanitária para comercializar em qualquer lugar do mundo.

Tantas particularidades do bacalhau da Amazônia permitirão a prática de preços competitivos?
Bacalhau hoje se faz de cinco peixes, o pirarucu será o sexto. É o único de uma área manejada, que tem a grife da sustentabilidade. O valor do quilo do bacalhau ao consumidor deve variar entre R$ 45,00 e R$ 50,00 e será competitivo com o bacalhau tradicional, comercializado atualmente por aproximadamente R$ 90/kg.

Quando o produto entra no mercado?
O Bacalhau da Amazônia chega a Manaus no dia 1º de dezembro e será uma opção para a ceia de Natal. O produto poderá ser encontrado no Feirão da Sepror, que funciona de quinta a domingo, no Parque da Expoagro, na Feira do Peixe, na avenida Constantino Nery, e no Parque Dez, ao lado da Clínica da Mulher. A Sepror negocia a entrada do produto nas redes de supermercado locais e o Grupo Pão de Açúcar também tem interesse.

A Sepror possui o projeto Peixe Popular, que consiste na venda do excedente a preços populares pelos produtores.Há previsão de ele ser expandido?
 O caminhão frigorífico é disponibilizado para o pescador, que vende o peixe excedente mais barato na comunidade. A única exigência é a presença de um técnico para evitar que o preço suba e a revenda ilegal. Esse projeto funciona desde 2007 em Manaus. Já levamos para São Gabriel da Cachoeira, em 2009, e temos interesse em levar para outros municípios. Estamos em negociação com o Ministério da Pesca para a aquisição de mais dois caminhões.

Quais investimentos estão sendo feitos na produção de guaraná no Amazonas?
Temos um projeto chamado guaraná clonado, em parceria com a Embrapa, para melhorar a produção. A produção de guaraná do Amazonas é muito pequena. Já distribuímos 140 mil mudas em Maués, Urucurituba e Urucará. A média de produção do guaraná em Maués, hoje, é de 170 kg por hectare. O guaraná clonado pode render 1000 kg por hectare, sete vezes mais. Aí entra a sustentabilidade, pois o produtor deixa de desmatar seis hectares para produzir uma tonelada de guaraná.

O escoamento da produção é um obstáculo para os produtores do interior. O que a Sepror realizou na recuperação de vicinais?
 Já recuperamos mil quilômetros de vicinais e temos como meta recuperar outras mil, com reformas, ampliações. Sem escoamento, não há produção. A meta da Sepror não é asfaltar, por exigir um investimento muito caro. Mas, em parceria com o Incra e a Suframa, mantemos frentes de trabalho no interior. Em Presidente Figueiredo, por exemplo, mais de 11 máquinas trabalharam na recuperação de 200 quilômetros de vicinais. Em Itacoatiara e Iranduba, foram outros 150 quilômetros, além de mais de 500 quilômetros no entorno de Manaus. Hoje temos R$ 140 milhões em convênios destinados desde a recuperação de vicinais até a construção de casas populares.

Como parte do programa de infraestrutura, a Sepror também constrói casas polulares na zona rural?
Temos projeto para a construção de 4,5 mil casas populares na zona rural. O programa começou em 2008 e já construímos 1,5 mil casas. Outras três mil devem ser construídas em parceria com o Ministério das Cidades.

 A mecanização do solo é um investimento na infraestrutura das propriedades promovida pela Sepror?
Sim. Mecanizamos mais de mil hectares de pequenos agricultores, com a entrega de mais de 40 patrulhas agrícolas de pequeno porte e vamos entregar mais 50 ainda este ano. Isso torna a propriedade sustentável, poupa o agricultor e ainda eleva a produção.

O produtor rural do Amazonas tem acesso aos programas de crédito?
O Amazonas, como o Brasil, não tem mais problemas de crédito para o pequeno produtor rural, desde o Governo Lula. Com o dinheiro público, foram abertas dezenas de linhas de financiamento com juros a 1% ou 2%: R$ 16 bilhões só este ano. No Amazonas, os recursos que o Banco da Amazônia (BASA), Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) e o Banco do Brasil destinaram para financiar o pequeno produtor passam de R$ 200 milhões.

O que o público pode esperar da 38ª Expoagro?
Menos festa e mais tecnologia e negócios. Em primeiro lugar, priorizaremos o comércio de animais, máquinas e equipamentos. Em segundo, o desenvolvimento tecnológico, venda de embriões, matrizes, melhoramento genético, novos conhecimentos para aprimorar o setor produtivo. Em terceiro, o entretenimento, com as guloseimas, brincadeiras, atrações, shows e, é claro, o rodeio, que fazem parte de toda essa festa.

Fonte: Acrítica