Projeto visa aumento e diversificação da produção no interior do Amazonas

Guaraná da região do município de Maués. Foto: UMC/Sebrae
Maués é conhecida como a terra do guaraná. Mas os agricultores do município estão dispostos a diversificar os seus plantios, implantando culturas que podem ser fundamentais para a segurança alimentar e aumento da renda familiar, assim como para melhoria da qualidade e quantidade dos produtos que abastecem os diferentes mercados locais. Um projeto que vai levar novas tecnologias de cultivo aos produtores pretende alavancar a produção e oferta de alimentos no campo e na cidade, tendo como foco central o compartilhamento de conhecimentos.
O trabalho – que está começando a ser implantado em Maués, município do interior do Amazonas distante 268 quilômetros da capital Manaus – é realizado por meio de uma parceria entre os agricultores e técnicos, pesquisadores e representantes de diversas instituições. Em conjunto, os atores que compõem o projeto definiram como estratégia inicial a implantação, em diferentes localidades, de Unidades Demonstrativas (UD) de mandioca/macaxeira, banana, abacaxi e hortaliças em cultivo protegido.
Nas UDs, que vão ser estruturadas em propriedades de agricultores localizadas em pontos estratégicos do município, as entidades parceiras do projeto vão demonstrar tecnologias que possibilitam a melhoria da produção e o alcance de produtividades altas em cada cultura, como preparo do solo, espaçamento correto de plantio, seleção de cultivares e tratos culturais, entre outras. As Unidades, após estabelecidas, servirão como modelo para outros produtores rurais do município, multiplicando os conhecimentos nelas depositados.
Segundo o pesquisador da Embrapa, Jeferson Macedo, as tecnologias implantadas em uma Unidade Demonstrativa são, geralmente, simples, mas têm o potencial de transformar a produção e a realidade de famílias agricultoras e comunidades rurais. “O que vamos implantar nessas Unidades Demonstrativas é conhecimento. São coisas simples, como ajustar um espaçamento, corrigir o solo ou trabalhar com cultivares mais produtivas e resistentes a doenças. Mas depois que o agricultor aprende a fazer, ele precisa cada vez menos de assistência técnica e segue com as próprias pernas”, destacou.
Para o agricultor da região do Urupadi, interior de Maués, Adeílson Gomes, com esse apoio, os agricultores vão fazer o trabalho render mais. “É dessa forma, com a união de todos, que vamos conseguir multiplicar os conhecimentos e a nossa produção. O pessoal estava cansado de trabalhar tanto e ter pouco resultado. Com essas tecnologias que chegam da Embrapa, sem dúvida a situação vai melhorar muito. E esse conhecimento que chega ninguém vai tirar de nós. Vamos trabalhar muito para que o nosso povo possa produzir de forma mais digna”, acrescentou.
Para o gerente do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam) em Maués, Ademir Bentes, o projeto é uma forma de levar a assistência técnica para as comunidades rurais de forma mais eficiente, pluralizando informações. “Este trabalho vem atender a uma demanda dos agricultores, que é a proximidade com as instituições de extensão rural e pesquisa. Nada mais justo que os parceiros se integrem com esses agricultores, com o objetivo comum de fortalecer a agricultura familiar em Maués e, com isso, conseguir de alguma forma melhorar a qualidade de vida do produtor, por meio do aumento da quantidade e qualidade da produção”, falou.
Conforme o secretário de Fomento à Produção e Abastecimento de Maués, Ornan Alencar, o município hoje importa muitos alimentos, e tem sua agricultura baseada fundamentalmente na produção de guaraná e mandioca. “Identificamos a necessidade de o nosso agricultor familiar diversificar o seu trabalho, não apenas para enriquecer a sua mesa, com produtos variados, mas também para abastecer os mercados e aumentar sua renda, para ter o melhoramento de sua qualidade de vida. Este modelo já foi testado em outros municípios e foi um sucesso e isso nos dá a esperança para podermos fazer uma agricultura com menos agressão à natureza, mais produtiva e mais diversificada”, disse.
União de esforços
O projeto é uma união de esforços, que reúne agricultores e a Embrapa Amazônia Ocidental, Idam, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifam) e Prefeitura de Maués. “Estamos vivendo um momento aqui em Maués em que nunca antes as instituições estiveram tão unidas como agora. Então o ambiente é totalmente favorável para implantarmos este tipo de trabalho. Ao mesmo tempo, temos consciência de que o trabalho não é de nenhuma instituição, mas sim do agricultor, ele que vai ser o grande centro das atenções”, destacou o supervisor do Campo Experimental da Embrapa em Maués, Ribamar Cavalcante.
O exemplo de Parintins
Em Parintins, o Núcleo de Apoio à Transferência de Tecnologia e à Pesquisa do Baixo Amazonas (NAPTT), coordenado pelo pesquisador Jeferson Macedo, vem realizando, também com apoio de diversos parceiros, um trabalho muito parecido com o que começa a ser implantado em Maués. Por lá, as ações, a cada dia, têm ganhado mais força e adesão dos produtores, que já abastecem as feiras locais e mercados institucionais, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa de Regionalização da Merenda Escolar.
“Nós podemos produzir aqui e pelo menos abastecer nossos mercados locais. Em Parintins temos trabalhado a questão da diversificação, estimulando o produtor a usar uma área para trabalhar com diversas culturas. Além de banana e mandioca, os agricultores estão plantando graviola, abacaxi, melancia, maracujá, pimenta, e diversas outras coisas”, destacou Jéferson.
O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Amazônia Ocidental, Ricardo Lopes, destaca que as demandas dos agricultores de Maués foram levantadas e foi decidido começar o trabalho com as culturas da mandioca, abacaxi, banana e hortaliças. “Com o tempo, no entanto, o objetivo é expandir este trabalho em Maués, seguindo o exemplo de Parintins, integrando outras culturas de interesse. O trabalho nas Unidades vai ser conduzido pelos agricultores, cabendo às instituições colaborar para que seja tudo feito dentro de padrões técnicos visando à obtenção do resultado esperado”, ponderou.
Fonte: Ecodebate